quarta-feira, 4 de março de 2015

Escrevi



Escrevi


Escrevi.
Escrevi o que estava precisando no momento; escrevi o útil e o inútil; escrevi o que transbordava do meu corpo; escrevi o que estava sendo implorado pelo meu coração para ser posto em palavras; escrevi o que todos queriam ler e o que ninguém queria entender; escrevi o que seria fácil; escrevi de forma difícil; escrevi de forma sintética; escrevi de forma complexa e árdua; escrevi o que passaria despercebido por milhares; escrevi aquilo que um lesse; escrevi comédias, romances, dramas, erotismo; escrevi pensamentos; escrevi vida e escrevi morte; escrevi dor e escrevi alegria; escrevi o ser e escrevi o não ser; escrevi imaginação e escrevi o real; escrevi tudo; escrevi nada.
Não escrevi.


Texto feito em 18/02/2012.
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domingo, 1 de março de 2015

Sem Você

Sem Você

A cama já não lhe parecia tão macia quanto outrora fora.
As cobertas não lhe pareciam tão quentes como nas noites passadas.
A sensação de estar no aposento não era mais agradável – apenas uma lembrança torturante. E tampouco queimar aquele lugar, em um fogo ardente, poderia acabar com a solidão que se apossara dela.
Ele vagava em sua mente nas poucas horas que conseguia dormir e nas muitas horas em que permanecia acordada.
O gosto do último beijo permanecia sob seus lábios, e a impressão de possuir aqueles braços frios protegendo-a nunca se dissiparia.
O desejo, a luxúria e a vaidade não atrapalhavam aos dois, porém ambos sabiam que aquilo não teria um fim digno de livros românticos.
Nenhum dos dois sonhara em casar-se, mas tê-lo como marido naquele momento parecia-lhe uma boa opção.
Nenhuma declaração fora ouvida, mas um simples sussurrar em seu ouvido a fazia arrepiar-se.
A perdição dos seus olhos a levava a mundos desconhecidos;
O êxtase era capaz de fazê-la sentir-se mais do que humana;
Era capaz de sonhar acordada, sem perceber que aquela realidade não existia.

Saber que desistira do certo…
Que fora atrás do errado por sua espontânea vontade...
Parecia-lhe tolice, mas tinha plena certeza de que se voltasse no tempo, cairia em todas as suas próprias armadilhas novamente.
Se o verdadeiro amor existia, o seu diferenciava-se de qualquer outro que pudesse ser conhecido.
Ele não lhe trazia felicidade...
Entretanto, trazia satisfação.
Ele não lhe trazia tristeza...
Mas arrancava-lhe cada pedaço do coração, deixando-a imune a todas as emoções. O vazio a possuía. 
E quanto mais vazia por dentro, mais ela se buscava nele.

Naquela noite tudo terminara. O que era vazio tornou-se apenas um tormento em sua vida, visto que não o tinha para preencher o que lhe fora arrancado.
Não havia como sobreviver sem ele. Era quem lhe trazia vida, era seu próprio coração.
Caiu inerte ao chão...

Ao abrir os olhos visualizou a imagem que tanto ansiava.
Respirou fundo, acalmando-se enquanto voltava a si.
O homem ao seu lado dormia profundamente, não a deixando saber se estava tão aflito como ela se encontrava.
Ela sabia como seria o fim de tudo...
Mas ao encontrar seus olhos e seus corpos se tocarem, sentiu-se vazia novamente.
E ali estava ele para fazê-la sentir-se viva.

Nem que fosse só por mais uma noite.
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Fotografia


Fotografia

Não era de guardar lembranças de sua vida, muito menos de possuir momentos nostálgicos ao longo de todos aqueles anos. As lembranças simplesmente se esvaíam do seu ser e da sua mente, tornando-se tão somente fatos aleatórios que não lhe pertenciam mais.
Vivia o presente. Guardava o passado às sete chaves. Tolerava o futuro incerto.
Não lhe era uma característica eternizar um momento. Deixava-o passar, aproveitando aquilo que lhe era oferecido.
Ninguém poderia afirmar, sequer adivinhar, que ele possuísse apenas um objeto que eternizara: uma fotografia.
A única que tivera audácia e imprudência de tirar.
Uma imagem... Guardada em seu guarda-roupa velho, no fundo das gavetas levemente mofadas.
Fora apenas o que conseguira dela: um retrato.
Não imaginou que anos mais tarde sua mulher encontraria aquela velha lembrança. Muito menos que não se sentiria traída ou humilhada. Ela o tivera a vida inteira, enquanto ele só conseguira guardar parte da outra.
Levou a gravura à própria dona. Bateu na porta e foi atendida.
- Sim? – Atendeu uma mulher, sorrindo-lhe educadamente.
- Acho que isso lhe pertence - foi sua única resposta.
A outra aceitou o envelope sem dizer uma palavra. Retirou-se antes que pudesse ser  feita alguma pergunta.
A que ficara abriu o envelope, incerta. Deparou-se com si mesma em seu tempo de juventude.
Alguém se aventurara a tirar um retrato atrás de algum esconderijo.
A cena era uma das que havia ficado em sua memória: o enterro de sua mãe, realizado durante um longo dia chuvoso.
Ela jamais soube quem registrara aquele momento.
Entretanto, ele sabia...

Sabia que para ele, ela seria – para sempre – apenas uma fotografia.
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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Toques


Toques.
Rose ajeitou-se confortavelmente na cama, sentindo o lençol branco e macio brincar com sua pele desnuda. O sorriso involuntário, que adormecera com ela, voltou ao seu rosto. Como diria sua prima, parecia ter dormido com um cabide dentro da boca. Aquele pensamento a fez dar uma risada abafada. Não queria acordar o homem ao seu lado, dormindo tranquilamente.
Virou-se lenta e silenciosamente, ficando de lado. Ajeitou-se, colocando o peso de seu corpo no cotovelo. Scorpius dormia profundamente, inerte ao despertar e interesse da mulher. Os fios loiros e lisos estavam jogados em sua face, cobrindo metade de seu rosto. Suas sobrancelhas, geralmente franzidas, pareciam serenas. A boca ligeiramente aberta fez Rose querer apertar-lhe a bochecha, mas conteve-se. Não gostaria de sair assustando o homem daquele jeito.
Rose mordeu o lábio inferior enquanto sua mão se erguia. Sabia que aquele era um gesto praticamente involuntário. Percorreu a mão direita pelos fios loiros, sentindo-os escorrer por entre seus dedos; contornou todo o seu semblante, passando para o pescoço. O ombro desnudo estava firme e frio, fazendo-a sentir ligeiros arrepios ao aventurar-se por aquela zona. Desceu toda a extensão do peito, sentindo os pequenos pelos que cresciam naquela região; demorou-se na barriga, passando, finalmente, ao braço. Desceu-o lentamente, parando na mão, ao final. Brincava com os dedos, observando-os, enlaçando-os...
Rose prendeu a respiração ao sentir a mão de Scorpius fechar, imobilizando a sua. Ergueu o rosto para o rapaz, a tempo de ver seus olhos se abrirem e um sorriso maroto iluminá-lo.
- Você me assustou - murmurou Rose envergonhada. Havia sido pega no flagra, e não pensara como podia explicar aquele hábito que possuía de tocar as pessoas. - Há quanto tempo está acordado?
- Tempo o suficiente para sentir seus dedos assediando meu corpo - falou Scorpius piscando para Rose. A ruiva mordeu o lábio e desviou o olhar timidamente. Sabia que seu companheiro a analisava. - O que estava fazendo?
- Como? - A mulher rebateu com outra pergunta. Scorpius sorriu de lado, ainda segurando firmemente sua mão. Não parecia ter intenção de soltá-la.
- O que estava fazendo? - Repetiu a pergunta. Rose tentou pensar em algo ligeiro para dizer, entretanto demorou alguns segundos para responder-lhe:
- Estava te conhecendo - sussurrou em um fiapo de voz. Scorpius franziu o cenho, parecendo refletir sobre o que lhe havia sido dito.
- Me conhecendo...
Rose sentiu-se ligeiramente boba pela resposta que dera, portanto, tentou explicar-se melhor.
- Eu sou toda toques.
Scorpius demorou a responder, parecendo refletir nas duas respostas que haviam lhe sido dadas. Sua resposta foi virar-se completamente para a mulher, depositando um singelo beijo em sua testa. Abraçou-a, escondendo o rosto em seu pescoço. Rose sentiu o corpo arrepiar-se ao contato do homem.
- Eu gosto dos seus toques.
A ruiva riu ao sentir Scorpius afastar-se de si. O homem sorria-lhe afetuosamente, passando a mão sobre seus cabelos bagunçados.
- Pode me tocar da forma que quiser - continuou o loiro, sem qualquer tom malicioso em sua voz. Era apenas, como entendeu Rose, um convite para sentir-se livre em conhecê-lo, da melhor forma que lhe conviesse.
Scorpius sorriu-lhe pela última vez, antes de levantar-se. Rose observou o homem encaminhar-se ao banheiro, cantando uma suave música que haviam escutado na noite passada. Voltou a deitar, suspirando.

Ela era toda toques e ele era todo gestos. 
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